FOTÓGRAFO POPULAR NO INSTAGRAM ADMITE QUE SEU TRABALHO É GERADO POR IA

18, Jun 2023 Inteligência Artificial, IA

Créditos: https://www.resumofotografico.com/

Com imagens geradas por Inteligência Artificial (IA) inundando cada vez mais a Internet, o trabalho do fotógrafo Joe Avery mostra que a linha entre as imagens de IA e o trabalho criado por fotógrafos reais está se tornando cada vez mais tênue. Recentemente o próprio fotógrafo revelou que sua admirada “fotografia de retrato” é na verdade gerada por IA. Sua confissão também levanta questões sobre quando e como divulgar o uso de IA na criação de conteúdo.

Avery abriu sua conta de fotografia de retratos no Instagram em outubro de 2022. E em apenas alguns meses, suas impressionantes fotografias em preto e branco acumularam de cerca de 12.000 seguidores. Mas o que seus seguidores, que escreveram comentários entusiasmados sobre o quanto seu trabalho os inspirou, não perceberam é que Avery não havia pegado uma câmera. Todas as suas imagens foram criadas usando Midjourney e depois retocadas por ele.

No início de janeiro, sentindo-se “em conflito” por ter enganado seus seguidores, ele abriu o jogo para a publicação online Ars Tecnica por e-mail. “[Minha conta do Instagram] aumentou para quase 12 mil seguidores desde outubro, mais do que eu esperava”, escreveu ele. “Porque é onde eu posto retratos gerados por IA e finalizados por humanos. Provavelmente mais de 95% dos seguidores não percebem. Eu gostaria de esclarecer.”

Avery continuou esclarecendo que, embora sua intenção original fosse enganar seus seguidores e depois escrever um artigo sobre isso, ele passou a gostar do processo de criação dessas imagens de IA e as via como uma saída criativa que queria compartilhar abertamente. Embora o relato de Avery agora afirme claramente na biografia que as imagens são IA e que ele está criando arte digital, nem sempre foi esse o caso.

Na verdade, antes de sua confissão, Avery permaneceu vago sobre as origens das imagens e frequentemente respondia a comentários de seguidores elogiando seu trabalho. Os comentários foram excluídos, mas o site PetaPixel publicou capturas de tela dessas interações.

Sob uma imagem, um fotógrafo de retratos que seguiu a conta escreveu: “Obrigado pela inspiração que você fornece dia após dia com seus maravilhosos retratos. Eu paro, dou uma boa olhada, reflito e certamente aprendo com cada post que você compartilha.” Avery simplesmente respondeu: “Muito obrigado por reservar um tempo para compartilhar isso. Significa muito."

Em outro caso, alguém perguntou abertamente a Avery qual equipamento ele usou para tirar suas fotos e, em vez de afirmar que eram geradas por IA, ele respondeu que usa Nikon. No entanto, Avery disse à Ars Tecnica que, à medida que seus seguidores cresciam, ele começou a se sentir culpado pelo engano.

“Parece ‘certo’ divulgar [arte gerada por IA] de muitas maneiras – mais honestas, talvez”, compartilhou Avery. “No entanto, as pessoas que usam maquiagem em fotos revelam isso? E a cirurgia estética? Toda fotografia de moda comercial tem uma forte dose de Photoshop, incluindo a substituição do corpo de celebridades nas capas de revistas”.

Claro, as técnicas para esconder certas coisas ou criar ilusões há muito fazem parte da maioria das formas de arte; mas, como Ars Tecnica aponta, “deturpar seu ofício é outra coisa completamente diferente”. Agora que ele está limpo, Avery descobrirá como o público vê seu engano.

De sua parte, Avery vê seu trabalho como uma forma de criatividade. Ao explicar seu processo criativo, ele afirmou que gerou cerca de 14.000 imagens usando o Midjourney para chegar às 160 postadas no Instagram. Ele então combina as melhores partes das imagens geradas e as retoca no Lightroom e no Photoshop para obter uma aparência realista.

“É preciso um esforço enorme para pegar elementos gerados por IA e criar algo que pareça ter sido feito por um fotógrafo humano”, compartilha Avery. “O processo criativo ainda está muito nas mãos do artista ou fotógrafo, não do computador.”

Essas obras de arte digital certamente se parecem com fotos reais. Dado o que vimos em termos de imagens de IA não editadas, muitas horas certamente foram gastas para garantir que certos aspectos, como olhos e mãos, pareçam reais. Muitas das imagens de Avery também são acompanhadas por uma pequena história fictícia sobre a pessoa retratada. Essas palavras certamente aprimoram as imagens e provavelmente foram parte do motivo pelo qual sua conta ganhou popularidade.

Mas agora que ele confessou que essas imagens são arte digital e não sua própria fotografia, a questão é qual será a resposta? As pessoas não se importarão e seus seguidores continuarão a crescer? Ou as pessoas, principalmente outros fotógrafos, darão as costas a essa forma de engano? Atualmente, ele tem quase 28.000 seguidores e continua postando com frequência. Embora sua biografia no Instagram se refira a IA e arte digital, ele continua a usar hashtags populares de fotografia como #peoplephotography em suas imagens, sem hashtags mencionando IA, Midjourney ou arte digital.

O caso de Avery é interessante e pode compreensivelmente instilar medo em fotógrafos que veem a IA como mais uma forma de perder trabalho. Se os seguidores de Avery no Instagram não perceberam a diferença, isso significa que os anunciantes e outros clientes pagantes provavelmente também não perceberiam. Não é difícil ver como não estamos muito longe da arte digital substituir a fotografia em alguns cenários.